A Samsys, empresa familiar ligada às tecnologias de informação, costumava organizar regularmente tertúlias com empresários e amigos, antes da COVID-19 nos bater à porta.
Numa destas tertúlias o tema apresentado pelo meu amigo e fundador da Samsys, Samuel Soares, foi “O Desafio da Sucessão nas PME de origem Familiar”.
Da minha participação nesta iniciativa e após alguma reflexão sobre o tema decidi escrever este artigo porque este é um assunto transversal a muitas empresas da nossa praça, a começar pela minha.
A sabedoria popular diz o seguinte:
“A riqueza não sobrevive a três gerações”, diz um ditado chinês. De Itália surge este “Do estábulo para as estrelas e de volto ao estábulo”. Ou seja, sem um planeamento adequado da sucessão, as empresas familiares enfrentam uma súbita batalha no caminho para a longevidade e prosperidade.
As preocupações dos fundadores das empresas familiares
A incerteza sobre se os membros juniores terão ou não as aptidões, vontade e experiência para gerir uma empresa são as principais preocupações que os fundadores das empresas familiares têm sobre como manter a gestão nas mãos de um ou mais membros da família.
As empresas familiares têm histórias íntimas e muitas vezes culturas complexas que são difíceis de entender para alguém externo.
Existem muitas outras questões que atrapalham a continuação bem-sucedida do negócio.
Felizmente, com um bom planeamento e objetivos bem traçados e atenção aos detalhes, a maioria destas dificuldades pode ser superada com facilidade.
Algumas questões-chave a ter em conta:
- Segundo alguns estudos só um terço das empresas familiares fazem com sucesso a transição para a segunda geração.
- É importante o alinhamento dos interesses entre os donos atuais e os futuros. Torna-se mais importante quando o dono que se retira e entrega as rédeas à nova geração continua a olhar para a empresa como garantia do rendimento da sua reforma.
- As disputas intrafamiliares ou os interesses de um dos membros da família podem não estar alinhados com os dos outros. Estas situações podem tornar-se ainda mais difíceis quando há o divórcio de um dos donos ou a morte do cônjuge sobrevivo-os imóveis e questões de herança, os impostos ou a valorização dos ativos após a morte do proprietário de uma família.
Os passos para uma boa sucessão nas empresas familiares
É fundamental seguir os seguintes passos para uma boa sucessão nas empresas familiares, de forma a criar um plano de sucessão viável para levar a empresa para o sucesso e crescimento contínuo.
- Estabeleça metas e objetivos – Seja claro sobre o que quer.
- Reveja e atualize o plano de sucessão e razoabilidade de alcançar os objetivos desejados.
- Desenvolva uma visão coletiva, metas e objetivos para a empresa.
- Determine a importância do envolvimento da família continuar na liderança e propriedade da empresa, mas considerando também a opção de ter uma gestão profissional.
- Estabeleça objetivos pessoais para o valor da sua reforma.
- Identifique objetivos da gestão para próxima geração, tanto pessoais como ao nível empresarial.
- Contrate uma equipa de consultores e/ou gestores profissionais.
- Estabeleça um processo de tomada de decisão. Não decida sozinho.
- Identifique e estabeleça processos de governança para envolver os membros da família na tomada de decisões.
- Estabeleça um método de resolução de litígios.
- Documente o seu plano de sucessão por escrito.
- Comunique o seu plano de sucessão à família / parceiros, incluindo clientes e fornecedores.
- Estabeleça o Plano de Sucessão – Defina um calendário
- Identifique os sucessores – quer os gestores da empresa quer os novos proprietários caso não sejam os mesmos.
- Identifique papéis ativos e não ativos para todos os membros da família.
- Identifique o apoio adicional necessário para o sucessor.
- Crie um plano de negócios – Compreenda as realidades da sucessão.
- Avalie as implicações fiscais para o proprietário e para o negócio após a venda ou transferência de propriedade, morte ou divórcio.
- Planeie a transição de propriedade dos imóveis para minimizar os impostos e evitar atrasos na transferência de bens para os restantes proprietários ou cônjuges.
- Redija um contrato de compra /venda que seja justo, refletindo o valor da empresa e que minimize os impostos.
- Crie um plano de transição – Ensine-lhes as regras do jogo
- Considere opções: compra definitiva, presente / herança, ou uma combinação destas.
- Se a empresa é para ser comprada, considere as opções de financiamento, incluindo o financiamento externo ou autofinanciado pelos proprietários que se vão reformar com base num pagamento diferido no tempo.
- Estabeleça um cronograma para a implementação do plano de sucessão.
A chave para um plano de sucessão bem-sucedido
A chave para um plano de sucessão bem-sucedido é torná-lo gradual e orgânico, não súbito e fortuito.
Dê aos novos membros da família a oportunidade de trabalhar na empresa, mas não os deixe começar no topo. Deixe-os trabalhar como estagiários nas férias de verão ou a trabalhar na caminhada de baixo para cima. Isto vai ajudá-lo a ver os que têm o potencial para assumir o cargo quando pretender sair.
Tenha sempre um plano B
Mesmo os planos de sucessão mais elaborados podem mudar rapidamente, por isso é aconselhável ter um cenário de backup. Nem todos os negócios da família vão sobreviver e muitos falham, principalmente devido aos diferentes interesses familiares e a capacidade da próxima geração em fazer crescer as empresas.
Por isso tome em linha de conta estes passos agora. Vai poupar dinheiro, tempo e dissabores e vai ajudá-lo a garantir o sucesso da continuidade do seu negócio.
Como ninguém fica cá eternamente, deixo para reflexão este pensamento do padre António Vieira: “Não descuidar da sucessão, é reconhecer a mortalidade”.
“Neste mundo não há ninguém insubstituível. Por muitos conhecimentos e faculdades que uma pessoa tenha, regra geral, existe sempre um sucessor à espera de ser encontrado. Se o mundo estivesse cheio de pessoas insubstituíveis, teríamos sérios problemas.”
— Haruki Murakami